quinta-feira, 18 de maio de 2017

Sobras, restos e coisas assim ...


Ouso afirmar que sou perita em lidar com sobras, em dar-lhes destino,  numa louca apologia do aproveitamento.

É que, por exemplo, quando o creme para as mãos chega ao fim, eu que o utilizei perdulariamente, sinto uma absurda compulsão para o espremer até à última gota, apertando o tubo em prodigiosas contorções. Mais ... às vezes dou-me mesmo ao trabalho de, em acesso de loucura, lhes abrir "a barriga" de modo a que nem molécula do produto vá desaproveitada para o lixo.
O mesmo com o champô a que adiciono água  e com a pasta de dentes e com o protector solar e o hidratante corporal e tudo, tudo que venha em frasco ou bisnaga.

Com a comida também!
Não gosto de deitar comida ao lixo!
Preparo torradas e açordas e pudim de pão e pão ralado ...
Faço pataniscas e pastéis de bacalhau e rissóis e empadões ...
Cozinho compotas e geleias e bolos variados sempre que  a fruta permanece esquecida e os iogurtes definham gelados ...

Essa sou eu!
Magnífica!
Perita!
Expert!

Porém...

Porém nem sempre!
Principalmente se me movo no mundo dos fios e das lãs!
Aí falho desastrosamente!

Explico:
Abro uma gaveta...
Não abre, de atafulhada ...
Tanto novelo, tanto resto de fio, tanta desordem, tanta desorganização (  é que além da propensão para rentabilizar as sobras, sou um bocadinho manienta com as arrumações - admito!)

Necessário se torna agir!
Tudo cá para fora - organizemos a desordem!
Escolho fios!
Tudo com a mesma espessura e, já agora, que as cores se acomodem sem briga.

Determino o projecto - numa organizadérrima pasta ... coisas minhas e mãos à obra!


Pois,  teremos,  então, uma série de quadrados que, ligados, formarão colorida manta ...

Só que ...
As sobras não chegam para levar o barco a bom porto, pelo que imperioso se torna ir às compras, abastecer-me de munições que, fatalmente, originarão novas sobras.



Estes que aqui mostro, são já o aproveitamento de sobras e a aplicação de recentes compras  ...


Faço contas, cálculos, engendro equações em que a manta concluída será = X - isto é, o número de quadrados que constituirão o "monumento" final, resultante de uma quantidade de sobras que não para de me decepcionar .


Falemos verdade - isto não são sobras ...

Isto é o início de um movimento ad aeternum, que nunca dá certo, porque nunca se esgota, antes se reproduz numa cadência invencível.

Logo, quem quiser eliminar as sobras de lã que atafulham gavetas só tem um caminho:

- Lixo com elas!
Só que eu - pobre de mim - não sou capaz!
E refém das sobras mais não faço que eternizá-las!


Beijo
Nina