sexta-feira, 14 de novembro de 2014

1248 - Chegou a hora!


Fatal, como o destino, incontornável, cruel, escravizante, enlouquecedora, chegou a hora!
Escusado disfarçar, pensar noutra coisa, assobiar para o ar, sair, ir ao cinema, refugiar-me na cozinha respirando odores, provando sabores, testando ligações, chegou a hora!
Desvio-me, não olho, passo ao lado - só à noite - de luz apagada.
Não adianta, chegou a hora!

A hora terrível de mudar, de trocar as roupas!

Repousam em caixas, sossegadas, mas de atalaia,
à espreita, prontas para o ataque!

Mais tarde ou mais cedo, enfrentam-me!
Sou o elo mais fraco, acabo por ceder!
Apetece-me manter as caixas fechadas e fechadas dar-lhes rumo.
Comprar tudo novo. Mas pouco, muito, muito pouco. Apenas o indispensável que usarei tanto que, no fim da estação, gastos, coçados, quase rotos, seguirão diretamente para o caixote do lixo.
Odeio roupa! Principalmente sendo muita! Principalmente agora!
Odeio!

E as abençoadas caixas - apenas uma aberta - desafiam-me, provocam-me, petulantes, atrevidas!

Por outro lado, eu e a minha mania da arrumação, do esteticamente agradável, não suporto este amontoado atabalhoado de volumes à porta do meu quarto lindo.
Jazem no chão de uma saleta habitualmente muito cómoda, muito confortável, muito agradável.
Está irreconhecível, está um desastre, uma feira, uma feira de horrores.

Rendo-me!
Entrego as armas!
Vou arrumar a farrapada!
Vou! Agora! Sem adiamentos!
Fui!

Beijo
Nina