sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Era a peste da insónia ...



Assim é anunciada uma epidemia letal, no coração da intriga de "CEM ANOS DE SOLIDÃO".
Uma epidemia que dizimava povos e que Garcia Marques descreve :

"Com efeito, tinham contraído a doença da insónia. Úrsula, que aprendera com a mãe o valor medicinal das plantas, preparou e obrigou todos a tomarem uma beberagem de acónito, mas além de não conseguirem dormir, estiveram todo o dia a sonhar acordados. Nesse estado de lucidez alucinada não só viam as imagens dos seus próprios sonhos como viam as imagens com que sonhavam uns e outros.Era como se a casa se tivesse enchido de visitas. (...)
De início ninguém se alarmou. Pelo contrário, ficaram contentes por não dormirem porque havia muito que fazer em Macondo e o tempo mal chegava. Trabalharam tanto que depressa deixaram de ter que fazer (...)







O  efeito perverso da insónia era que, com decorrer das noites em branco se apagava a memória, pelo que  se iniciou a construção de uma máquina da memória, fosse lá isso o que fosse.

É assim que a ação se desenrola, num jogo de realidade e magia.
A partir de um acontecimento verosímil, Garcia Marques constrói uma castelo de fantasia, que nos enreda e devora.
Nesta passagem vi-me ao espelho.
A insónia não é particularmente penosa se as suas horas forem produtivas. O day after, porém, decorre assim, num jogo de espelhos que baralham a realidade.
E que a memória é afetada, é um facto.

Como vai a minha insónia?
Tem dias, melhor dizendo, noites ...
Mas a luta continua ...

Beijo
Nina