quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Tricotar pacifica!


Tenho a certeza, sei do que falo e por isso garanto.
É só deixar as mãos libertas, no ritmo certo, na cadência correta e dar asas à imaginação.
Em silêncio, o pensamento viaja e quase pressinto que o espírito se liberta do corpo.
Como alternativa, soltam-se os sentidos, a visão e a audição, enquanto nas mãos as agulhas avançam e, assim ocupados,  escapamos ao precipício do sono face à televisão.

Descobri que até é divertido assistir a novelas!
Bem, pelo menos a uma novela,  o INSENSATO CORAÇÃO da TV Globo, na qual os maus são mesmo maus, são pérfidos, são doentes, enquanto que os bonzinhos, vestem , a bem dizer, a pele dos santos, enquanto que no dorso, as penas de asinhas de anjo teimam em insinuar-se.
Pelo meio, há momentos hilariantes provocados por Bibi, uma predadora sexual.
Os cenários interiores são lindos, uma tal "Carol" veste-se maravilhosamente e, linda como é, apaixona-se por um homem  particularmente feio, mas sumamente inteligente e de uma sinceridade à prova de bala.

A pouco mais se resumirá a sinopse da novela que passa a horas impróprias e por isso gravo.

E assim, assistindo aos pequenos dramas das personagens, quase sem olhar, prossigo o trabalho em modo automático.
Absolutamente automático, sublinho e comprovo:


O casaquinho da Teresinha que se tricota numa só peça, exige que se acrescentem malhas para formar as mangas, do mesmo modo que estas serão extintas quando a largura da manga tiver sido atingida.

Perdida nos delírios da Eunice e no Veneno do Léo, não "matei" as malhas e então, dei por mim tricotando uma coisa informe, disforme, disparatada.

É que desligar do tricô é possível, mas "em termos"!
Resta-me desmanchar, desmanchar até ao local em que a manga ficará delineada.
Não me custa nada. Tricoto sem pressão e sem pressa. Até me divirto com este tipo de acidente.

Lembro um livro que li há muito tempo, "Como água para chocolate", de Laura Esquivel, uma sul-americana que, num golpe de asa, engendrou, a partir da cozinha, o seu mundo, um romance incrível.

Tita, o nome da heroína, tricotava uma manta imensa nos momentos de maior dor.
Era o seu momento de catarse.
Como esses momentos eram frequentes, a manta cresceu, cresceu, cresceu até cobrir toda a propriedade.
No caso de Tita, que repetia o ponto até ao infinito, o tricô era absolutamente libertador.
O meu também o é, mas exige momentos de atenção em que as regras são aplicadas.

Beijos
Nina